quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

Rumo ao Atacama!(parte III): Pukará de Quitor e Reserva Los Flamencos

Enfim chegou domingo, nosso último dia ativo no Atacama, pois na segunda cedo voaríamos novamente a Santiago. O primeiro passeio do dia foi proposto pelo nosso pai: uma visita às ruínas de Pukara de Quitor, uma civilização pré-incaica que habitava a região. A proposta, não muito comum entre tantas opções mais conhecidas, veio a ser uma das melhores da viagem: o lugar é encantador.

Eu, Nay, Luna, pai e Domingo demoramos pouco mais de 40 minutos para escalar até o topo do monte onde estavam as ruínas. A vista, óbvio, dava ao Licancabur, quem mais? O passeio, se não me engano, custou 1500 pesos (perto de seis reais) e você pode caminhar livremente pelas ruínas, sem, obviamente, tirar nada do lugar. Claro que não podíamos deixar de transgredir uma das regras e seguramos a placa “Zona de cumbre” para tirarmos fotos. Coisas que fazem parte da viagem se você está com o Dema...
Segunda aventura do dia: ir ao Salar do Atacama conhecer a Reserva de Flamingos na laguna Chaxa. Um espetáculo totalmente diferente de tudo.
Chegamos de carro, como sempre, no meio do nada: somente areia e sal – afinal, estamos em um salar – para todos os lados, e nada mais. Ao descer do carro há uma pequena casinha onde são vendidas as entradas da reserva, e atrás dela se esconde a laguna. É necessário caminhar na aridez do deserto por uns 10 minutos – e, no nosso caso, bem embaixo do sol de meio-dia – até avistar os flamingos dentro d’água. As aves ficam o tempo todo com a cabeça baixa, procurando comida nas águas salgadas. Às vezes uma ou outra resolvem levantar voo bem em cima da cabeça dos turistas, que, óbvio, não param de tirar fotos. Além da laguna e dos flamingos não existe nada além de areia e sal. Até o horizonte.
Fui caminhar com a Luna pela reserva enquanto o pai ficava deitado na beira da laguna e a Nay também, em outro canto. Quando voltamos ela nos disse que passou ali por uma das experiências mais incríveis de sua vida: ficar em silêncio e ouvir absolutamente nada. Ela disse que ficou meia hora com a boca fechada para ver, pela primeira vez, como é ouvir o silêncio total. Em dado momento ouviu um zumbido forte, e acreditem, era o bater de asas de uma mosca. O Atacama proporciona experiências únicas.
Pela tarde, após voltarmos a San Pedro, resolvemos ir ao Pozo Tres, uma piscina pública da cidade, onde o pai havia ido uma vez há mais de 20 anos. Claro que eu, Nay e Domingo, peritos em participar de roubadas, fomos com ele.
O lugar, segundo o pai, mudou completamente: construíram uma parede que bloqueava a vista ao Licancabur (isso foi uma novidade para mim, pois o vulcão sempre é visto de qualquer lugar) e estava cheio de pessoas. “Quando eu vim era só eu e minha esposa”, disse. Bom, apesar das mudanças ele e Domingo resolveram cair na piscina enquanto eu e Nay tomávamos banho de sol.
Duas horas depois, quando resolvemos ir embora, vieram o pai e o Domingo rindo em nossa direção. “Vocês não viram nada?”, nos perguntaram. Após dizermos que não com uma cara de desentendidas eles explicaram: “O salva-vidas da piscina, após verem vocês entrarem, saiu correndo para buscar aparelhos de peso e passou a última hora inteira perto de vocês, fazendo exercícios. Se alguém se afogasse ele nem ia notar.” E o pior: nós nem reparamos! O coitado deve ter ido para casa com dor nos braços e inconsolado: sequer reparamos sua presença.
À noite, para nos despedirmos bem do deserto, compramos cervejas, vinho e piscos para o último jantar no hostal. O pai e o Domingo assaram frango, e ficaram a noite toda fazendo a piada “Alguém quer carne de flamingo?” para os outros hóspedes. Um jovem alemão, o Matthias, sentou para comer conosco. Já havíamos conversado com ele em outras noites, ele é uma pessoa bacana e, como todo bom alemão, forte para o álcool.
Após o jantar pai e Domingo foram dormir enquanto que eu, Nay e Luna continuamos bebendo com nosso amigo. Na madrugada seguinte, às 4h, ele sairia para fazer o passeio dos gêiseres, e por essa razão nos propôs beber até a hora de seu passeio. Aceitamos. Ficamos entre garrafas de pisco e de cervejas – quentes, como toda boa cerveja chilena – bebendo e conversando. A noite no deserto é fria, de modo que estávamos todos encasacados. Ficamos até as 3h40 juntos em uma mesa no jardim do hostal, até que Matthias resolveu ir organizar suas coisas para o passeio que começaria em 20 minutos. Nós, mortas de cansaço, fomos dormir.
No dia seguinte, às 8h, tivemos que acordar para irmos a Calama, onde embarcamos de volta a Santiago. O voo dessa vez foi tranquilo, tirando a parte da aterrissagem, quando as rodas do avião fizeram um barulho enorme e as luzes de emergência ascenderam. “Acho que as rodas caíram”, disse o Domingo, rindo do pânico que provocou nas brasileiras. Mas chegamos bem, graças a Deus.
Em Santiago novamente tivemos apenas um dia para organizar a próxima viagem: La Serena, que começaria no dia seguinte pela manhã. Mas isso já é assunto para um outro post.

Rumo ao Atacama! (parte II): Gêiseres Del Tatio e Laguna Cejar

Se um dia você for ao Atacama e resolver sair de casa antes do amanhecer, lembre-se: coloque todas as roupas possíveis no corpo. Isso porque, apesar de você estar no deserto, a temperatura durante a noite chega ao negativo. Nós, por exemplo, sentimos a agradável temperatura de seis graus negativos. Fresquinho.
O ônibus que veio nos buscar chegou às 4h, e às 6h chegamos aos gêiseres. Lá ficamos uma hora inteira passeando entre a fumaça que saia do chão enquanto o guia – que resolveu que casaria com uma brasileira após nos conhecer, hahaha – explicava o fenômeno. É preciso estar preparado para aguentar o frio, repito. O Domingo, mesmo sendo chileno e estando mais acostumado ao frio, quase congelou as mãos porque não levou luvas. A Luna precisou emprestar as dela para ele conseguir voltar a mexer os dedos.
Depois de um breve chocolate-quente fomos a uma terma que ficava por ali mesmo. O guia recomendou a todos que estivessem com frio a entrar na água, pois estava bem quente, mas eu, Nay e Luna não tivemos coragem de entrar, pois sabíamos que quando saíssemos d’água a temperatura continuaria baixa. Esse pensamento não se estendeu aos demais e logo o pai, Domingo, japoneses, franceses, alemães e espanhóis estavam todos mergulhados nas cálidas águas da terma. O máximo que fiz foi esquentar – ou melhor, queimar – meus pés na beirada.
A terceira parte do passeio foi uma visita a Machuca, um povoado com apenas sete habitantes. Sim, eu digitei certo: sete. Nessa vila viviam mais pessoas, mas a população jovem começou a procurar outros lugares para viver. Hoje os moradores se revezam para manter o povoado, e a cada ano um grupo é responsável por viver ali, no meio do deserto, com poucos companheiros. Hoje a sobrevivência deles é praticamente o turismo: todos param ali para provar o anticucho de llama (espetinho de gato de lhama), vendido a 1800 pesos (como sete reais!!) e para tirar fotos de uma simpática velhinha vestida com roupas típicas e acompanhada por uma pequena lhama, que cobrava 1000 pesos (quatro reais!!!) por três fotos.
Voltamos para o hostal perto do meio-dia.  Ainda nos sobrava a tarde inteira para passear, e dessa vez resolvemos ir com o carro que o Domingo alugou até a Laguna Cejar, um dos lugares mais lindo do Atacama.
A Laguna Cejar fica simplesmente no meio do nada. É perto de San Pedro, mas a estrada é tão mal sinalizada que praticamente abrimos uma nova trilha para chegar até lá. Mas vale muito a pena: do nada, no meio da areia e do sal (estamos no Salar do Atacama), surge uma lagoa de águas douradas, que refleteo sol escaldante do deserto.
A melhor parte é entrar na água: você não afunda! Como é uma lagoa com uma concentração muito grande de sal é impossível colocar os pés no chão, como no Mar Morto. É assim ficamos: boiando, naquela água gelada que veio super bem a calhar em uma tarde de 40 graus, e admirando lá longe o vulcão Licancabur, o maior nas redondezas. Um dos melhores momentos da viagem.
Para fechar com chave de ouro fomos ver o pôr do sol no Valle de la Luna, um dos lugares mais famosos do Atacama. Chegamos lá um pouco antes do pôr do sol. Para ver o sol se pondo é necessário subir por um caminho um pouco íngreme e cansativo. Como eu, Nay e pai demoramos um pouco mais para subir porque paramos para tirar fotos (que ficaram lindas) acabamos chegando ao topo depois do sol se pôr atrás das montanhas. Deu para ver um pouco ainda do espetáculo, juntamente com vários outros gringos com milhões de câmeras apontadas para o horizonte. E, do outro lado, o Licancabur continuava a nos acompanhar, imponente e rosado com o ar de fim de dia. Mais um dia no deserto que acabou.

Rumo ao Atacama! (parte I): San Pedro e Mina Chuquicamata

Ah! Já faz duas semanas e ainda não escrevi nada sobre a viagem ao Atacama que eu, Ná, Luna e pai  - e depois também Domingo – fizemos no começo de dezembro. É que nossos últimos dias no Chile foram dedicados às viagens que fizemos ao deserto e a La Serena, além das despedidas, e por essa razão não tive tempo de escrever até agora, que já estou no Brasil. Mesmo com o atraso, vale a pena ler sobre esse fantástico lugar chamado Atacama. São tantas as histórias que dividirei a viagem em três posts.

Chegamos ao deserto mais árido do mundo no dia 9 (quinta-feira) às 12h30, após um conturbado voo de Santiago a Calama. O avião, da Lan, sério, tremia demais! A decolagem e a aterrissagem foram terríveis, e para melhorar o piloto falava tão rápido que não dava de entender se dizia “vamos cair” ou “boa tarde”. Mas pela tranquilidade que os chilenos estavam ao escutá-lo acho que a segunda opção era mais válida. Aterrissamos.
Calama fica na Segunda Região, de Antofagasta, e possui cerca de 200 mil habitantes. Mas nosso destino não era exatamente este, e sim San Pedro de Atacama, à uma hora mais de distância por terra.  No próprio aeroporto reservamos um transfer que nos levou até nosso hostal.
Chegando em San Pedro é impossível não se surpreender com a quantidade de poeira e terra em tudo! Bom, no meio do deserto, como constatamos nos dias seguintes, é impossível se livrar da sujeira: melhor acostumar-se com ela. Ainda estávamos entrando em San Pedro, passando por várias casinhas simples e pequenas, quando o motorista falou: “Hostal Candelaria”. Achei que a Nayara e a Luna fossem ter um ataque.
- É aqui mesmo? Ele tem certeza? Isso não é uma favela?
Descemos do transfer e com as malas na mão batemos na porta. Dela saíram gatos e cachorros, como o Diego havia comentado que aconteceria, pois ele que recomendou este hostal. Mas, como os próximos dias nos mostraram, era mesmo um bom lugar para ficar.
Após fazer o check-in com Mirian, uma recepcionista local muito cuidadosa, tratamos de deixar as malas no quarto e passear pela cidade. Em 15 minutos de caminhada era possível estar no centro da cidade.Logo descobrimos que não era só a área onde estava nosso hostal que era ‘simples’: San Pedro inteira é feita de casas pequenas, de barro, todas da mesma cor da areia no deserto. Até nas ruas principais da cidade, como a Caracoles, onde sempre se acham muitos gringos europeus e asiáticos, sejam com seus notebooks na praça central ou passeando pela cidade com bicicletas alugadas.
Já na primeira noite no deserto resolvemos fazer o primeiro passeio: um tour astronômico. Isso porque estávamos em um dos lugares com a melhor visão celeste do mundo! Às 21h partiu um ônibus carregado de turistas para a visita a um observatório a céu aberto.
O céu atacameño é inenarrável. A partir das 21h, quando escurece, todo o céu fica pontilhado com trilhões  de estrelas, que brilham desde o horizonte até acima de nossas cabeças. É mágico. O guia do passeio ainda tinha nas mãos uma caneta laser, com a qual desenhava as constelações no céu, maravilhando japoneses, franceses, ingleses, americanos e nós, os brasileiros.
Após a visita, que durou duas horas e incluiu um chocolate-quente no final (lembrando que à noite o deserto  é extremamente frio), voltamos para San Pedro, onde uma surpresa nos esperava: o Domingo, que supostamente estava no Brasil, apareceu na porta de nosso hostal. Veio passar seu aniversário, que seria no dia seguinte, conosco.
Na sexta-feira, 10, acordamos às 9h e fomos para Calama. O Domingo resolveu incluir em nossos planos uma visita à mina de cobre de Chuquicamata, a maior mina do Chile e uma das maiores a céu aberto do mundo.
A visita durou perto de duas horas. Nela você recebe uma explicação sobre todo o processo de fabricação do cobre, além da visita ao mirador, que fica na beirada da mina. O único problema é que para entrar você precisa usar capacete, blusa de manga comprida e calça. E ninguém nos avisou. Para resolver a situação o guia nos emprestou calças dos trabalhadores de Chuquicamata. O único problema foi o tamanho das calças: 44. E usamos 38. Mas tudo bem, pois como diria a Luna, “tudo pelo cobre”.
Após a visita a Chuquicamata fomos também a uma cidadezinha chamada Chiu-chiu. O que fizemos lá?  Tiramos fotos da igreja e da Plaza de Armas, as únicas coisas que existem ali, haha. Pela noite voltamos para San Pedro, onde comemoramos o aniversário do Domingo em um restaurante com uma fogueira no centro e muito pisco, claro. Nesse dia dormimos cedo, pois resolvemos fazer um passeio aos gêiseres de Tatio às 4h da manhã do dia seguinte.  Mas isso já é tema para outro post.

sábado, 4 de dezembro de 2010

Buena onda! Algumas das inúmeras gírias chilenas

Pois é. Dezembro chegou. Parece que no Chile o tempo passa rápido também. Foi ontem que chegamos aqui, com aquelas caras de assustados, no aeroporo de Santiago, um frio danado, e os três sem saber para onde olhar. Agora, depois de tantos dias, aulas, passeios, amigos, baladas, viagens, enfim dezembro, nosso último mês no Chile, chegou. Mas sem tristeza, pois nos últimos quatro meses vivemos intensamente e conhecemos muitas coisas novas.
Uma das coisas que mais aprendemos por aqui foram as expressões chilenas. É quase impossível não ouvir um ‘cachai’ (entende?) ainda no primeiro dia em Santiago. Algumas gírias são tão interessantes que resolvemos fazer um post só delas, para que vocês também conheçam. Aí vão algumas:

Weon: deriva da palavra ‘huevón’, e significa tanto ‘amigo’ como também pode ser um xingamento, depende do contexto;
Buena onda: legal, bom;
Mala onda: ruim, chato;
Cachai: entendes? Vem do verbo cachar, que significa ‘entender’ ou também ‘transar’;
Papita pal loro: mamão com açúcar;
Estar pal gato: estar mal;
Carrete: festa. Há também o verbo ‘carretear’, ou seja, festar;
Quiltro: cachorro de rua (o que tem muito por aqui);
Tomado, puesto, curado, ébrio, borracho: bêbado
Raja de curado: podre de bêbado;
Po: utilizado em quase todos os finais de frase, vem de ‘pues hombre’. Não acho uma tradução específica para o português, mas é só falar ‘po’ em qualquer frase que estará certo (haha);
Pololo (a): namorado;
Jote: urubu. Aqueles homens que ficam ‘caçando’ na balada;
Chelas: cerveja;
Flaite: pessoas de classe baixa (algo como nosso ‘favelado’);
Cuicos ou Peloláis: Pessoa de classe alta;
Bacan: legal

Bom, acho que com isso já dá de vocês conhecerem um pouco do que estamos ouvindo por aqui e se prepararem caso um dia venham ao Chile. Que estén bien!