terça-feira, 11 de janeiro de 2011

Enfim, a despedida

É. Após quatro meses e nove dias em solo chileno, chegou a hora de voltarmos para casa. Eu, sinceramente, estava triste por este momento especial da minha vida estar chegando ao fim. Foram dias inesquecíveis, cheios de novas amizades, lugares e experiências. Pessoalmente, o Chile mudou algumas coisas em mim. Posso dizer que "dar um tempo" na rotina abre a nossa mente, nem que seja um pouquinho. Em terra chilena eu me sentia em casa, apesar das diferenças todas que mencionamos nesse blog. Confesso que apesar do acolhimento, sempre relutei um pouco em aceitar alguns habitos de lá e - o que muito me surpreendeu - alegava que a maneira brasileira de fazer certas coisas era a melhor. Talvez em território estrangeiro a gente tenha necessidade de ser mais patriotas para afirmar nossas raízes - apesar de que em casa possamos viver reclamando de tudo.
Agora vamos aos acontecimentos do 'adiós':
Chegamos de La Serena de ônibus sexta-feira pela manhã. Fomos para El Punto descansar e, logo após desfazer as malas da curta viagem, dar início ao tão temível momento: organizar a bagagem pro Brasil. Na vinda, por sorte, não sei, nossas malas não foram pesadas, mas a minha bolsa veio no limite dos 23kg permitidos em voos na América Latina. Após me abastecer com material da universidade, litros de vinho e algumas outras lembrancinhas para amigos brasileiros, eu e Lary sabíamos que teríamos excesso de peso na bagagem. Para evitar pagar os 60 dólares para quem ultrapassa a cota em até 10kg, fizemos o seguinte: colocamos todo o possível na bagagem de mão, que permite até 8kg. Porém, no momento do embarque não as apresentamos para a pesagem e passamos ilesas de uma possível cobrança. A minha mala chegou aos 21kg, só não pesou mais por falta de espaço, enquanto a da Lary alcançou quase 30kg e não escapou da taxação... Mas o conteúdo fez valer a pena: vinhos, pisco, chocolate.
Na tarde da sexta fomos à USACH buscar os documentos necessários para a validação do intercâmbio na UFSC e vimos pela primeira - a última - vez o edifício do Jornalismo já recuperado do terremoto de fevereiro passado. Passamos o semestre entrando no prédio por uma passagem improvisada ao fundo e dividindo nossa audição entre as aulas e os barulho das obras. Me deu pena só conhecer o 'verdadeiro' prédio da nossa faculdade no nosso último dia lá. Antes dos trâmites burocráticos, nos despedimos do 'casino', o restaurante universitário onde comíamos com nossos amigos chilenos e intercambistas. Tiramos foto do momento, é claro.
À noite, aproveitamos a corriqueira festa de sextas na universidade e fizemos uma 'despedida'. Claro que 99% dos nossos amigos presentes estariam na festa do dia seguinte en El Punto, na véspera da nossa viagem.
Sábado foi o dia de terminar as malas - ou melhor, socar todo o possível para dentro das bolsas. Usamos uma balança velha (com um índice de 3kg de diferença para mais ou para menos) encontrada por amigos na nossa residência para tentar controlar o peso da bagagem. No final da tarde terminei a tarefa e tentei descansar um pouco para a festa da noite. Já que o voo meu, da Lary, Diego Outro, meu pai, Luna e Giuliano eram entre às 7h e às 8h da manhã, resolvemos que 'pasaríamos de largo' a noite, ou seja, não dormiríamos, somente festaríamos. E assim foi. Muitos amigos da Engenharia Elétrica (curso do Giu e do Maicon) estavam em nossa casa para a despedida. Teve churrasco, muita bebida e, é claro, muitos abraços e choradeira. "Me acuerdo del día en que nos conocimos..." "Cómo vuela el tiempo!" "Te echaré de menos." estavam entre as 'top frases' da noite. Apesar do clima de alegria e tristeza, não chorei em momento algum. Talvez pela ansiedade de chegar logo em casa e rever meus amigos, família e namorado, talvez por saber que tudo tem seu tempo. Não fiz drama, apenas aproveitei com meus amigos aquele momento.
A Luna e o pai chegaram de La Serena 1h da manhã, apenas a da nossa ida ao aeroporto! Por sorte, eu e Lary não topamos voltar com eles, e pudemos fazer nossas malas com tempo e nos despedir de nossos amigos. O adiós ao tiu Domingo foi emocionante. Ao deixá-los em El Punto e ouvir nossos agradecimentos por todo o seu cuidado com a gente nesses meses, apenas se virou chorando e foi para o carro. Chilenos...
Tentei descansar por meia hora antes de começar a preparação para partirmos. Às 4h30 subimos num taxi que eu havia reservado e fomos ao aeroporto. O Giu estava triste, mas uma surpresa o fez ficar feliz: alguns de nossos amigos foram ao aeroporto levar uma câmera que ele esqueceu. E eu pude aproveitar para me despedir daqueles que não tive tempo quando saímos da residência. Poucos minutos antes do embarque dei tchau para o Giu na sala de espera da LAN.
O pai e a Luna foram num voo antes do nosso para São Paulo. Nos encontramos em Garulhos às 13h, de onde Luna foi de taxi para casa e nós aguardamos conexão para Floripa às 16h. O voo foi rápido e nele matei a saudade de algo: cerveja gelada. Não tivemos duvidas quando a comissária de bordo perguntou o que queríamos beber. O que me chocou ao descer em Floripa foi o calor. O calor e a umidade. O ar aqui é pesado, passei dias com dificuldade para respirar até me acostumar novamente. De todas as despedidas a mais triste foi a do Outro. Afinal, foram meses de 'convivência forçada', como ele mesmo dizia. Nossos namorados nos esperaram no aeroporto com flores e o Diego atendeu meu primeiro desejo de recém-chegada: uma passada pela beira-mar. No litoral o sol descia na terra, e não no mar. Eu estava em casa novamente.

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